sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Consequências da Guerra do Vietnã



O total de vítimas da Guerra do Vietnã entre os anos de 1964 até 1975 é impreciso, oscilando entre um milhão e meio a dois milhões de vietnamitas mortos, entre civis e militares. Parte considerável da população economicamente ativa do país morreu durante o conflito. Este fato provocou uma grave crise econômica nos anos seguintes ao término do conflito. Morreram aproximadamente 54.000 soldados estado-unidenses até a retirada dos Estados Unidos do conflito em 1973.
Quando os vietnamitas começaram a construir o socialismo no país unificado, primeiramente eles optaram pelo velho modelo soviético que, por não levar em conta as peculiaridades e as realidades nacionais, fracassou. O país então entrou em uma crise econômica que agravou ainda mais sua situação social. Em 1987 o Vietnã enfrentava uma inflação de quase 700% ao ano, uma grande carência no abastecimento de mercadorias e artigos de primeira necessidade como o arroz, por exemplo, estavam sendo importados. Além disso, o país só mantinha relações comerciais e diplomáticas com países socialistas, pois sofria o embargo de países capitalistas, sob imposição dos EUA.
Após a guerra, em 2 de julho de 1976, foi, então proclamada a República Socialista do Vietnã. Mas o país estava arrasado, com a maior parte de suas terras agriculturáveis queimada e envenenada (pelo bombardeio de agentes químicos) deliberadamente pelos norte-americanos. Além disso, como já dito, sob pressão dos Estados Unidos, o mundo ocidental negou-se a prestar socorro aos vietnamitas. Quem os ajudou nesse período de terríveis carências, foram as nações comunistas, especialmente a União Soviética. O socorro soviético estreitou as relações entre os dois países, mas provocou o afastamento da China.
Milhares de sul-vietnamitas, particularmente militares e funcionários do governo de Nguyen Van Thieu que se refugiou em Taiwan e, depois, nos Estados Unidos, fugiram do país em barcos, sendo que muitos deles morreram tentando escapar pelo mar. Os que ficaram foram aprisionados , sendo mantidos, por algum tempo, em Campos de Reeducação. Estima-se que cerca de dois milhões de sul-vietnamitas deixaram o país.
Ao ampliar o alcance da guerra para toda a Indochina, bombardeando o Camboja e o Laos, o presidente Nixon acabou contribuindo, indiretamente, para a vitória das guerrilhas comunistas naqueles países, na medida em que os camponeses principais vítimas dos bombardeios passaram a apoiar, maciçamente, os guerrilheiros.
No Laos, o governo monárquico foi derrubado pelo Pathet Laos, instalando-se a República Democrática do Povo do Laos.
Em 15 de maio de 1975, 41 militares estadunidenses foram mortos na tomada do navio mercante SS Mayagüez por tropas do Khmer Vermelho. Dois dias após, Phnom Penh, a capital do Camboja, foi tomada pelo Khmer, que proclamou a fundação do Kampuchea Democrático.
Inspirado na Revolução Chinesa e disposto a tornar o país exclusivamente campesino, o líder do Khmer, Pol Pot, fez deportar as populações urbanas para as áreas rurais, submetendo-as a trabalhos forçados nos arrozais, a torturas e a fuzilamentos sumários. Segundo a Anistia Internacional, algo em torno de 1,4 milhão de cambojanos foram mortos, incluindo 15 a 20 mil professores e 90% dos monges budistas. Esse banho de sangue só foi estancado em 1979, quando tropas da República Socialista do Vietnã invadiram o país, obrigando Pol Pot e muitos de seus seguidores a se refugiarem na fronteira com a Tailândia, onde apenas sobreviveram graças ao apoio da China e à ajuda econômico/militar dos Estados Unidos da América.
Em represália, a China invadiu o Vietnã, mas enfrentou séria resistência. Diante disso, após tomarem algumas poucas pequenas cidades no interior do país, os chineses proclamaram-se vitoriosos e se retiraram.
No pós-guerra, os norte-americanos se esforçaram para absorver as lições do conflito. Como observou o general Maxwell Taylor, um dos principais arquitetos da guerra, "em primeiro lugar, nós não nos reconhecemos no Vietnã. Pensamos que estávamos entrando em uma nova Guerra da Coréia, mas este era um país diferente. Em segundo lugar, nós não conhecíamos nossos aliados sul-vietnamitas e conhecíamos ainda menos o Vietnã do Norte. Quem era Ho Chi Minh? Ninguém realmente sabia. Sendo assim, até que pudéssemos conhecer melhor nossos amigos e inimigos, e conhecer melhor a nós mesmos, nós deveríamos ter nos mantido fora deste negócio sujo. Era muito perigoso."
Nas décadas passadas desde o conflito, as discussões acontecem sobre se a retirada norte-americana foi uma derrota política ao invés de uma derrota militar. Alguns estudiosos sugerem que "a responsabilidade pelo fracasso desta política, cai nos ombros não dos homens que a lutaram, mas nos daqueles do Congresso dos Estados Unidos." A história oficial da guerra, nos anais do Exército dos Estados Unidos, afirma que "as táticas da guerra freqüentemente pareciam existir à parte das estratégias e dos objetivos maiores. No Vietnã, o exército experimentou uma vitória tática e uma estratégia fracassada. A lição a ser aprendida é que os fatores sociais, culturais, políticos, humanos e históricos devem sempre se sobrepor sobre o fato militar. O sucesso não recai apenas num progresso militar, mas numa análise correta da natureza de um conflito em particular, entendendo a estratégia inimiga e reconhecendo as forças e deficiências dos aliados. Uma nova humildade e uma nova sofisticação de métodos devem formar a melhor parte de uma herança complexa deixada para o exército americano pela longa e amarga guerra no Vietnã." Mesmo o Secretário de Defesa McNamara concluiu que "o objetivo de uma vitória militar dos Estados Unidos no Vietnã foi uma perigosa ilusão".
Quase três milhões de norte-americanos serviram no Vietnã. Entre 1965 e 1973, os Estados Unidos gastaram 123 bilhões de dólares com a guerra e a ajuda econômica ao Vietnã do Sul, o que resultou num grande déficit no orçamento federal do país. A guerra demonstrou que nenhuma potência, mesmo sendo uma superpotência, era capaz de dispor de força e recursos ilimitados. Mas talvez mais significativamente, a guerra do Vietnã demonstrou que a vontade política, talvez mais que o poder material, é o fator decisivo no resultado de um conflito.
Em 1977, o presidente Jimmy Carter instituiu o perdão a cerca de 10 mil desertores do serviço militar exilados, permitindo-lhes a volta para casa.
O Envolvimento da República Popular da China no Vietnã começou em 1949, quando os comunistas de Mao Zedong tomaram o poder no país. O Partido Comunista Chinês logo providenciou apoio material e técnico aos comunistas vietnamitas. Em 1962, Mao concordou em enviar a Hanói 90 mil rifles e armas menores, sem custo. Após o começo das operações aéreas de bombardeio do norte do Vietnã, a China enviou unidades antiaéreas e batalhões de engenheiros militares ao país, para ajudar a reparar estradas, pontes e ferrovias destruídas pelos norte-americanos, o que liberou grandes contingentes de soldados norte-vietnamitas para o combate no sul. Entre 1965 e 1970, mais de 320 mil chineses serviram no norte do Vietnã.
Apesar da assistência chinesa, os vietnamitas sempre mantiveram uma atitude de desconfiança de seus grandes vizinhos, pela histórica antipatia mútua entre as duas nações. Com a China se tornando após a guerra na principal força de apoio ao Khmer Vermelho cambojano, a relação entre os dois países deteriorou-se a ponto dos chineses lançarem uma invasão ao Vietnã em 1979, após a entrada destes no Camboja um ano antes, invasão esta considerada um fracasso militar por suas parcas conquistas. As duas nações continuaram com escaramuças militares durante os anos 80, com a China capturando algumas ilhas vietnamitas na zona de fronteira.

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